JULIA MENDES
Autora dos livros de poemas Desde quando deserto (Patuá, 2014) e Para um corpo preso no guindaste (Patuá, 2012), Julia Mendes nasceu no dia dois de fevereiro, no Rio de Janeiro.
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Conheça 03 poemas do livro Desde quando deserto, de Julia Mendes:
desde quando deserto
nos rostos bancos praças colada no próprio esquecimento a tua falta
colada tua beleza
à garganta
como um blowjob malfeito
amor – o que resta sem nome
colada a sobriedade
à vasta responsabilidade da vida
seu menino sorria
fui outrora para você
afoguei as flores inflamadas
te amei como se amam inocente e escandalosamente os primos
adolescentes
viados
fui uma toada de sentimentos embriagados
e agora este embargo
colada tua beleza à minha sarna
rasgo teu rosto na desordem
***
curto-circuito cigano
meu desespero dura o tempo exato da agonia de uma barata depois fico eufórica saio com a boca pintada avanço sobre o brooklyn com o sorriso massivo de quem tem todo o chão o coito o coice e o beijo de um morto no asfalto
avisto o mar sem cheiro de nova york arremesso a falta que brune
***
saturno em escorpião
afina-se para dentro borbulha avança vaza no que sobra e quando menos dilacera saturno dança com seu escorpião no meio de um vortex onde os vagalumes criam suas cascas azul-violeta-indigo-blue suave-será-a-dança dos que uivam
Conheça 3 poemas do livro Para um corpo preso no guindaste, de Julia Mendes:
PARA UM CORPO PRESO
então agora acredito na informalidade mais do que em qualquer coisa acredito neste traço rascunhado no qual andei tentando desenhar teu rosto acredito em ana c acredito na chaleira da sofia/bruno intrometendo-se na gravação de um disco acredito em habitar as coisas cotidianas como habitar um ventre
acredito na desordem que fazem estes livros na prateleira mesmo enfileirados um a um e por ordem alfabética
acredito na lata de leite vazia guardada no armário da cozinha há anos
acredito em algumas frases do piva mas acredito pouco em shakespeare acredito em pequenas poças de sangue da minha menstruação e a cor engraçada que fazem no banho
acredito – por que não? – na urgência dos meus amigos mas acredito pouco na palavra amigos porque os amo como se fossem amantes
já acreditei mais no jornal e hoje em dia acredito apenas na sujeira que faz nos meus dedos ou nos recortes que podem formar frases esquisitas
acredito no cansaço que os meus livros me causam acreditamo-nos porque parei de habitá-los tanto quanto eles a mim e no entanto estamos aqui de frente um ao outro mantendo esta estranha e desinteressada relação
acredito nos palhaços pois odeio os palhacinhos de sinal e odeio os palhaços do dumbo mas acredito nos trágicos como o clown bêbado de heinrich böll sozinho e ácido ou o palhaço que costuma deitar-se comigo
acredito no sexo e o tempo que dura acredito no amor pois foi a única coisa que devotei a vida inteira a essas pequenas bugigangas
acredito em dores de garganta e dores menstruais acredito num poema do helder recitado por ele mesmo no youtube acredito em arrepios imaginários como uma lembrança acredito que ao tentar escrever a coisa me sufoque como se da tinta da caneta insurgisse um poema de volta para minha própria boca muda
acredito mais num cubo do que num quadrado mas acredito que um quadrado pode ser mil vezes mais violento do que um cubo ],,],],]
acredito no mais em quase todas as coisas pois deixo de acreditar instantaneamente em todas as outras
e este é o único exercício que me unta incha encarna e assim mesmo me espanta e eu torno a ser como todas as outras coisas uma cadeira ou um objeto menor sem ambição alguma só a ocupação de um espaço sem tempo porque o tempo não pertence as coisas as coisas pertencem ao tempo e aos tempos que necessitarem e o tempo é uma gelatina grossa e fluida sem função a não ser o entretenimento das pessoas como a imaginação ou o ar mas o espaço está aqui e tudo é, ainda que não exista, volume
***
NÃO
absorto morro com você nas costas crosta musical e ainda dolorida da península marítima
não cuspo o sangue da garganta cuspo muco merda agridoce chupo a pena insana da palavra – não tento dizer – sempre outra coisa
***
MULHER DA AMÉRICA para Aninha Terra
Mulher da América Latina, prenhe do Chile, marcas da Argentina ilhas inteiras dentro de você Feiticeira do Nada pintando maracujás e bocetas na mente das pessoas perfurando o mundo com esse aspirador entre as íntimas partes "eu queria jorrar mais do que simplesmente absorver" sim funcionamos como uma esponja carinhosa imprevisibilidade à mercê do dia catando espaços entre as horas para fazer imensas ondas hondonadas acumuladas novos conceitos de panquecas transbordando de temperos e tanto queijo que seja necessário o vinho e sairemos do foco para dar cambalhotas após experimentar um novo cachimbo arrombemos os poros das velhas cobertas com ócio propulsor de desejos retroativos que seja cansativo se é premissa para estarmos todos aqui tão vivos absolutamente presos aos vãos, às hastes, aos vértices num presente absurdo nestas bolhas protetoras e sensíveis que é viver sugando o mundo com este risco entre as pernas e ter amigos

Livro: Desde quando deserto
Autor: Julia Mendes
Gênero: Poemas Número de Páginas: 120
Formato: 14x21 - (acabamento em capa dura)
Preço: R$ 36,00 + Frete

Livro: Para um corpo preso no guindaste
Autor: Julia Mendes
Gênero: Poemas
ISBN: 978-85-64308-54-1
Número de Páginas: 76
Formato: 16x23
Preço: R$ 25,00 + Frete
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